domingo, novembro 13, 2005

DO FUNDO DE MEU QUINTAL

No momento em que voltava para casa, percebi um canto estranho, desses que aparecem somente nas primaveras geladas tão poluídas e que despertam sentimentos vazios. Digo isso, pois, acabei de encontrar um senhor, meio louco assim, meio falante que, ali na Praça do Sapo, quintal de meu Palácio, recitava uma espécie de cantoria Tupi-Guarani sobre diversas coisas da vida.

É fato mencionar a questão de ser Tupi, na medida da divina sonoridade ali presente que comovia os ares daquele lugar. O tema variava entre motes do mundo, das pessoas e dos sentimentos em geral. Acho eu, que aqueles discursos eram de alguém com agonias dum passado não resolvido. Não consegui um minuto parar e pensar sobre como as palavras daquele homem poderiam ser adequadas ao pensamento dum humilde cego, cujo lápis encosta-se com as palavras aqui lidas por vossa pessoa.

Eis que o ôme, em voz estridente e rouca delineava o causo do amor, como distúrbio da linguagem propriamente dita; uma insensatez entre a razão e o prazer; o sentimento e a necessidade. Talvez seja por isso que falam tanto desse troço e nunca conseguem definir nada. Inútil verdade em não se queimar com amores invisíveis... Por indagação própria, tenho saudade do tempo em que amei e da maneira como tal fato ocorreu. Mas sou difícil nos sentidos, tenho um coração de retórica incomunicável. Coisa minha. Como se não fosse inerente ao amor e às pessoas...

Em outro momento, ouvi sobre o sentido falado da vida que nada mais era do que a vontade do ser paciente; ator em caos dum filme sem letras, apenas com rótulo dedicado aos cadernos culturais da nossa existência. Devido à minha cegueira de rua e alma aprendi a falar com os sentidos. A entender que é mais difícil ser diferente a não se deixar levar pelas mesmices daqueles que não enxergam o mundo ao redor. Um cosmos dedicado aos princípios da busca por algo e nunca relacionado aos deveres próprios da realidade realizada.
Agora, se achas que estou a falar em demasiado ou se minha história é só devaneio indelicado, PARE, volte para algum território vazio de efemeridades inconstantes. Não quero ser chato ou deprimente, entretanto sou destes que se perde nos pensares, até porque não mastigo olhares urbanos, profanos de calamidade, reflito na minha própria irreal vontade. Um sentido que posso lhe oferecer é fazer o pensar sobre palavra iletrada, som não ritmado nas pequenas sensações do cotidiano. Nada mais, tudo e tanto. Faço a deixa para contar sobre a questão da inquietude dos sons, verdade imbatível segregada pela força de vontade que deixou aquele notório forte da praça a cantarolar um único ponto de fuga vislumbrado por Villa Lobos, o ponto sem reflexo receptivo, mensagem abstrata.

E, por essas e outras que ouço o cantar dos pássaros nas tardes imediatas da vida. Converso consigo mesmo, afinal, quem não há de discutir com o pensar e depois de virar-se em pranto, começa a sorrir para refletir e voltar. Deixo, por motivo incerto, uma mensagem errada sobre o que vejo da alma, uma espécie de querer supra-absurdo e negado nas constantes da vida. Dizer adeus é bobagem e nem por isso descansarei aqui em casa sem antes dizer um até breve pelo menos, pois, parece que é assim que os pássaros cantam aos que passam solitariamente.

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